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Atualizações em primeira mão!
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é um movimento construído por mulheres negras de todo o Brasil, de diferentes gerações, territórios e contextos sociais.
Atualizações em primeira mão!
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é um movimento construído por mulheres negras de todo o Brasil, de diferentes gerações, territórios e contextos sociais.
Neste 28 de setembro, Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização e Legalização do Aborto, a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver chama atenção para a urgência da pauta.
A data foi instituída em 1990, durante o V Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho, na Argentina, como um marco de convergência regional pela descriminalização do aborto. Para a Marcha, o tema é central: não há reparação possível sem justiça reprodutiva.
Em um cenário de avanço conservador em todo o mundo, mesmo os direitos já conquistados estão em risco, sobretudo para nós, mulheres negras; as mais afetadas pelas barreiras institucionais impostas no acesso à interrupção da gravidez. A legislação prevê o aborto em três situações específicas – gestação resultante de estupro, risco de morte para a gestante e anencefalia fetal – mas até mesmo nesses casos, o acesso tem sido atravessado por medo e criminalização.
“Quatro em cada dez meninas negras de até 14 anos, vítimas de abuso sexual, engravidam e precisam recorrer ao aborto legal. Mesmo nesses casos, enfrentamos perseguição e desmonte dos serviços. Isso faz parte de um projeto racista e genocida”, destaca Luciana Araújo, da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo. O fechamento do serviço em unidades de referência, como os hospitais Cachoeirinha e Pérola Byington, na capital paulista, é exemplo de como a perseguição institucional ameaça diretamente a vida das mulheres.
Se por um lado persistem retrocessos, por outro, a mobilização feminista tem conquistado vitórias. Desde 2020, a Argentina garante o direito ao aborto até a 14ª semana; na Colômbia, até a 24ª. Já países como El Salvador, Nicarágua e República Dominicana mantêm a proibição em qualquer circunstância, com penas que podem chegar a décadas de prisão.
Segundo Lía Zevallos, da Red de Mujeres Afrolatinoamericanas, Afrocaribeñas y de la Diáspora, esses contrastes mostram a dimensão da disputa: “Ao mesmo tempo em que países como Argentina e Colômbia conquistaram avanços históricos, hoje vemos a ameaça de retrocessos em toda a América Latina. Para as mulheres negras, o desafio é ainda maior: romper desigualdades estruturais que nos negam o direito de decidir sobre nossos corpos”.
A criminalização do aborto tem cor e endereço. Segundo o levantamento Aborto e Raça no Brasil (2016–2021), mulheres negras têm 46% mais probabilidade de recorrer ao aborto do que mulheres brancas em todas as faixas etárias.
“Garantir a centralidade das mulheres negras no debate sobre a descriminalização do aborto é reconhecer nossos direitos reprodutivos, respeitar nossa autonomia e afirmar o futuro que queremos: decidir como viver, com ou sem filhos, com segurança, dignidade e cuidado”, aponta Fabiana Pinto, do Movimento Mulheres Negras Decidem.
Para Fabiana e para todas nós, a luta não pode ser dissociada da reparação: “Trata-se de uma luta por reparação histórica e por um horizonte de Bem Viver, no qual o aborto possa ser finalmente reconhecido como um direito e como parte da vida reprodutiva de mulheres negras e pessoas que gestam, e não como trauma ou violência contra nossos corpos”.
Mulheres negras são maioria entre as afetadas pela criminalização e pela insegurança do aborto na América Latina e no Caribe. No dia 25 de novembro, ocuparemos Brasília com a Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, levando também essa bandeira.
Saiba mais sobre o acesso ao aborto na América Latina e Caribe:
Permitido:
Parcialmente permitido:
(Somente em casos específicos, como risco de vida, estupro, malformação fetal, saúde física ou mental da gestante etc.)
Totalmente proibido:
(Em qualquer circunstância)